quinta-feira, 16 de junho de 2011

Educação e Arte

EDUCAÇÃO E ARTE     


  Aprendi com meu povo o verdadeiro significado da palavra educação ao ver o pai ou a mãe da criança índia conduzindo-a passo a passo no aprendizado cultural. Pescar, caçar, fazer arcos e flechas, limpar o peixe, coze-lo, buscar água, subir na árvore... Em especial minha compreensão aumentou quando, em grupo, deitávamos sob a luz das estrelas para contemplá-las procurando imaginar o universo imenso diante de nós. Educação para nós, se dava no silêncio. Nossos pais nos ensinavam a sonhar com aquilo que desejávamos.
        Compreendi, então, que educar é fazer sonhar. Aprendi a ser índio, pois aprendi a sonhar (“viajar”, na linguagem do não índio). Ia para outras paragens. Passeava nelas, aprendia com elas.
        Percebi que, na sociedade indígena, educar é arrancar de dentro para fora, fazer brotar os sonhos, e, às vezes, rir do mistério da vida.
         Descobri depois, que na sociedade pós-moderna ocidental, educação significa a mesma coisa: tirar de dentro, jogar para fora. Mas isso fica na teoria. Decepcionei-me ao ver que os professores faziam ao contrário. Punham de fora para dentro. Os sonhos ficavam entalados dentro das crianças e jovens. Não tinham tempo para sair. Aprender, para o ocidental, é ficar inerte ouvindo um montão de bobagens desnecessárias. As crianças não têm tempo para sonhar, por isso acham a escola uma grande chatice.
        Não escolhi ser índio, esta é uma condição que me foi imposta pela divina mão que rege o universo, mas escolhi ser professor, ou melhor, confessor dos meus sonhos.  Desejo narrá-los para inspirar outras pessoas a narrar os seus, a fim de que o aprendizado aconteça pela palavra e pelo silêncio. É assim que “dou” aula: com esperança e com sonhos...

Extraído do livro História de Índio, de Daniel Munduruku.

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