quarta-feira, 2 de maio de 2012

Astronomia: Mito da Origem do Mundo | Cosmos e Astronomia - parte 5

Continuando a nossa série Vida Cotidiana e Ritual entre os Povos Indígenas do Oiapoque iremos conhecer um pouco da mitologia desses Povos.



Mito da Origem do Mundo
A história diz que o primeiro homem nasceu dentro do mar. Só tinha ele e mais nada. Chamava-se Parauyune. Aquele homem vivia, sem forma, dentro de um pote, de uma bacia.
Um dia ele disse: “Eu queria ver alguma coisa flutuando em cima da água ou então um ar, que esteja bonito para respirar”. De repente, ele escutou uma voz que disse: “Observa, olha direito para cima”. Aí ele olhou e a água se transformou. Parauyune disse: “Que maravilha, é isso que eu estava esperando mesmo”. Ele viu aquelas plantas que nasciam dentro da água. Quando ele piscou um pouco o olho, ele viu a terra e disse: “Que bom”. E desde então todas as coisas foram aparecendo, se transformando, se transformando.
Um dia ele observou o sol nascendo da água. Viu também uma nuvem sair da água. No mesmo dia a água subiu do mar. Foi subindo e indo parar no céu. “Que bom! Que maravilha! Mas eu gostaria que a água que fica no mar subisse e descesse”, ele disse. Então a água começou a subir. De repente, quando chegou a uma certa altura, a água se separou: metade foi subindo para o céu e a outra metade descendo. “O meu desejo é que a água subisse e descesse como chuva”, disse Parauyune. Quando ele disse isso, aí choveu, a água desceu como chuva.
Narrador: Manoel Labonté Palikur.



Cosmos e Astronomia
Um dos temas recorrentes na mitologia e cosmologia dos Povos Indígenas do Uaçá é a água: a chuva – símbolo de vida e renovação –, o mar, os lagos e o fundo dos rios – local onde vivem os sobrenaturais.
Para os Palikur, a Cobra de Sete Cabeças vivia antigamente na terra. Ela não gostava de mau cheiro. Um dia, uma mulher menstruada foi tomar banho no rio onde a Cobra morava. Esta ficou revoltada e decidiu ir embora. O corpo da Cobra perguntou às Sete Cabeças onde gostariam de morar. Todas, individualmente, responderam que gostariam de ir ao céu, ‘porque lá é tranqüilo e tem de tudo’. Para a viagem, decidiram pegar alguém para acompanhá-las. Um jovem pajé aceitou o convite. ‘Pode entrar no barco’, disse a Cobra. Mas o barco não era um barco, era uma Cobra Grande. O pajé subiu na cabeça da Cobra e ficou em pé. Uma vez no céu e a Cobra de Sete Cabeças instalada, o pajé disse: ‘Quando for dia de chuva, tu vais aparecer para todos te observarem da terra. Aos que olharem para o céu, aparecerás como estrela’. O pajé se despediu da Cobra e foi embora. Aí, na época da chuva, a chuva começou a cair e depois passou. São as Sete Estrelas, Laposiniê.
Kayeb, a grande cobra bicéfala, está entre as constelações mais importantes na astronomia Palikur, porque, diz-se, o Kayeb traz as primeiras chuvas que marcam o fim da estação seca e coincidem com o solstício de dezembro. Ao longo dos sete meses que se seguem, quatro diferentes chuvas sucedem-se, cada uma delas associada com os movimentos de nove constelações específicas. É a chuva do Kayeb que marca o tempo do plantio da mandioca, as cheias do rio Urucauá e o começo do ciclo úmido anual naquela região.

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